sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VÉSPERA

A palavra que amanheceu na minha cabeça hoje é véspera. Do latim ‘vespera,ae’, à tarde, ao cerrar da noite. É o dia que imediatamente antecede aquele de que se trata. A véspera do feriado, do Natal, do Ano Novo, do casamento, do aniversário...
O dia da véspera sempre se sabe, menos a véspera da nossa morte. Este dia que embora seja certo, não conhecemos, tem véspera indeterminada.
Como sempre fui muito ansiosa, toda véspera de uma data importante, causava-me aflições, palpitações, até enjoos conforme a ocasião, independente do evento do dia seguinte ser bom, ruim, ou imprevisível. O tempo e a maturidade me fez ter controle maior sobre as emoções. Já não tenho palpitações, nem enjoos, embora ainda perca o sono. Véspera para mim não é palavra nem instante muito agradável. Metaforicamente podemos dizer que quem se antecipa muito a ponto de ficar ansioso ou nervoso está sofrendo antes da hora – daí surge a frase “o peru é quem sofre de véspera” – pois bem, eu sou como o peru.
Assim, bom mesmo no meu entender é o dia do fato, vésperas não. Gosto é da véspera de nada, só esta me deixa em grande sossego, me traz tranquilidade. Vésperas de viagem abomino, esconjuro. È uma gama de correrias, miudezas para ajeitar, atenção redobrada a esquecimentos, listinhas, ânsias...  Bom mesmo é a véspera de não partir nunca, como diz Álvaro Campos – heterônimo de Fernando Pessoa, num poema: Na véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas, nem fazer planos em papel... Não há que fazer nada na véspera de não partir nunca...”.
Augusto dos Anjos, também deveria ter mau palpite quanto às vésperas, fato é que escreve em seu poema ‘Versos Íntimos’: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro”. Disse tudo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017


Na onda da Black Friday
Black Friday é uma expressão em inglês, que significa Sexta Feira Negra. É a sexta feira depois do dia de Ação de Graças. Este termo teve origem nos Estados Unidos, e é um dia especial porque as lojas fazem grandes descontos, e por isso muitas pessoas compram presentes para o Natal. Ocorre na última Sexta Feira do mês de Novembro. Black Friday pode também se referir a qualquer sexta-feira em que ocorra uma calamidade pública. Nesse caso, a explicação se deve ao fato de a cor negra ter sido historicamente associada a conceitos negativos, como em “mercado negro” e “ovelha negra", entre outras expressões. Os varejistas americanos logo perceberam que essa seria uma excelente oportunidade para criarem um dia de liquidações especiais atraindo mais consumidores.
Reeditando o modelo americano, as empresas brasileiras entraram na onda das super ofertas. Neste mês de novembro não há loja que não tenha promoções especiais. Peguei carona e fui procurar a Black Friday que me importava: um bom colchão a preço justo. Um colchão cuja relação entre o investimento, valor gasto, e o que se recebe como lucro me desse um bom resultado de satisfação.
Romaria pelas lojas, conversas com vendedores, todos muito simpáticos, mostrando as qualidades do produto. Uns de espuma, outros de molas simples ou ensacadas, uns de tecido frio, que transpira, antialérgico e o escambau.  Ao fim de umas duas horas eu já havia me deitado em vários colchões, obtido inúmeros orçamentos, todos com super descontos da sexta-feira negra. Estava cansada, indecisa e irritada.
Voltando pra casa, lembrei-me do colchão de pano de algodão e palhas de milho secas onde dormi toda minha infância e parte da adolescência. Não havia outras opções, ofertas, promoções. O sono era profundo, tranquilo, reparador. As sextas-feiras eram apenas o último dia da semana e novembro o prelúdio do mês natalino. E a vida tinha mais graça!


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

DISTÂNCIAS

Comecei a correr num sábado qualquer, por influência da Vivi, que eu vira uma única vez e me fez o convite, e também por questões de saúde. Depois os treinos foram se tornando rotina e a Vivi tornou-se amiga íntima. Nunca fui apaixonada por esportes e no início foi difícil, muitas vezes foi preciso me ungir de uma vontade majestosa para chegar à pista, mas depois dos esforços vinha a compensação, o barato da corrida, o bem estar.
Já faz quatro meses que corro e na primeira competição colhi bons resultados e isso me deu uma baita emoção; um estímulo ímpar. Hoje percorro três ou quatro quilômetros suando com prazer. A brisa no rosto, o sol pegando na pele, passadas largas no asfalto, as endorfinas navegando pelo sangue – corrida é pura química!
Nesta manhã eu corria e pensava como é interessante na nossa vida vencer distâncias. Basta ter um propósito, um querer bastante para ir adiante! E às vezes podemos começar sem grandes razões, simplesmente pela necessidade de se mover. No filme Forrest Gump, tem uma passagem que ele corre e justifica: “... Corri até sair do Alabama. Sem nenhum motivo, e segui em frente. Corri até chegar no oceano. E quando cheguei lá, já que tinha ido tão longe resolvi voltar e continuar. E ao chegar no outro oceano, já que tinha ido tão longe resolvi dar meia volta e continuar correndo. Quando eu ficava cansado, dormia. Quando tinha fome, comia e quando precisava ir… Bom, sabe… eu ia.”
Assim eu ando, parando quando necessário, retomando o percurso quando é preciso continuar, tanto nos treinos como em outros aspectos da vida. E percorrendo distâncias, vou vencendo barreiras, desprezando lembranças, amortecendo saudades!