sexta-feira, 17 de novembro de 2017

DISTÂNCIAS

Comecei a correr num sábado qualquer, por influência da Vivi, que eu vira uma única vez e me fez o convite, e também por questões de saúde. Depois os treinos foram se tornando rotina e a Vivi tornou-se amiga íntima. Nunca fui apaixonada por esportes e no início foi difícil, muitas vezes foi preciso me ungir de uma vontade majestosa para chegar à pista, mas depois dos esforços vinha a compensação, o barato da corrida, o bem estar.
Já faz quatro meses que corro e na primeira competição colhi bons resultados e isso me deu uma baita emoção; um estímulo ímpar. Hoje percorro três ou quatro quilômetros suando com prazer. A brisa no rosto, o sol pegando na pele, passadas largas no asfalto, as endorfinas navegando pelo sangue – corrida é pura química!
Nesta manhã eu corria e pensava como é interessante na nossa vida vencer distâncias. Basta ter um propósito, um querer bastante para ir adiante! E às vezes podemos começar sem grandes razões, simplesmente pela necessidade de se mover. No filme Forrest Gump, tem uma passagem que ele corre e justifica: “... Corri até sair do Alabama. Sem nenhum motivo, e segui em frente. Corri até chegar no oceano. E quando cheguei lá, já que tinha ido tão longe resolvi voltar e continuar. E ao chegar no outro oceano, já que tinha ido tão longe resolvi dar meia volta e continuar correndo. Quando eu ficava cansado, dormia. Quando tinha fome, comia e quando precisava ir… Bom, sabe… eu ia.”
Assim eu ando, parando quando necessário, retomando o percurso quando é preciso continuar, tanto nos treinos como em outros aspectos da vida. E percorrendo distâncias, vou vencendo barreiras, desprezando lembranças, amortecendo saudades!

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

VONTADE

Hoje levantei com esta palavra na minha mente. Isto ocorre comigo seguido, passar o dia com uma palavra me assombrando. E quando ela resiste em me deixar, recorro à escrita para expulsá-la de mim, como um ato de desobsessão.
Vontade é um substantivo feminino que significa a faculdade que tem o ser humano de querer, de escolher, de livremente praticar ou deixar de praticar alguma coisa. Também pode ser a força interior que impulsiona o indivíduo a realizar algo, a atingir seus fins ou desejos. Originada do Latim voluntas , é o desejo, o ânimo, o querer.
Todos os dias acordamos, indiscutivelmente, com alguma vontade, positiva ou negativa. Pode ser vontade de tomar café, de correr no parque, caminhar, trabalhar, iniciar um novo projeto, viajar, falar com um amigo... Ou simplesmente vontade de nem levantar! Tudo são vontades e estas reportam a uma escolha, uma ação. E conforme se configuram nossas ações, vamos colhendo resultados. Portanto nenhuma atitude resultará sem a devida volição do sujeito.
Enquanto divago sobre esta palavra, você que me lê deve estar pensando em algo que esteja com vontade de fazer. E é bom mesmo pensar nisso, porque o tempo é fugaz e as possibilidades neste mundo contemporâneo são vastas, sem contar nossa tendência congênita à comodidade. Mas o tempo de cada um corre de forma muito particular e desta mesma forma caminha nossos quereres.

Fundamental é não perder o ânimo, buscar, realizar, evoluir. E ter consciência do livre-arbítrio. O resto é mar, é tudo que eu não sei contar.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

QUASE NADA

Tem dias que me é difícil levantar. Acordo as sete e rolo na cama até às oito, cheia de culpas por não ter o ânimo devido e acordar cheia de felicidade e gratidão pelo dia lindo de sol, pelo sabiá que canta desde a madrugada na minha janela, pelo café farto que eu poderei tomar na minha cozinha. Meu peito dói espremido por uma angústia que eu não sei de onde vem.
Noutros dias me esforço um bocado para levantar na hora certa e cumprir algum compromisso assumido, como o treino de corrida na Redenção, três vezes por semana com um grupo de várias idades. Depois que visto o tênis, tomo uns goles de café e consigo por o pé fora do portão de casa, parece que as coisas começam a melhorar. Sinto-me realmente plena quando consigo vencer estes pequenos ‘obstáculos psicológicos’.
Segundo o Código Internacional de Doenças eu devo ser bipolar, transtorno mental em que a pessoa alterna entre períodos de depressão e períodos de elevado ânimo. E o mais interessante, é que no decorrer do dia meus humores variam de hora em hora, sem razões maiores. Vem-me seguido aquela pergunta: será que não sou normal?
Afinal o que é ser normal?  Tudo o que não se ajusta à sociedade é taxado de fora do normal e para corrigir, a psiquiatria moderna tem o tratamento e a pílula certa para cada diagnóstico. Não acho errado tratar estes males com medicação, há situações que são imprescindíveis, e graças aos avanços da medicina há tratamentos eficazes para casos precisos – eu já usei e recomendo.
Mas ter um humor sempre estável, bem ajustado, numa sociedade insana como a nossa, é sinal de saúde?  Essa busca desenfreada pela adaptação à ordem não será justamente a razão de nossos maiores sofrimentos? Um pouco de loucura é essencial em qualquer ser humano – falo daquela loucura boa, que nos faz sermos ousados e buscarmos caminhos originais. As pessoas que são consideradas loucas são as mais criativas. Os previsíveis fazem o que todo mundo faz, não inovam, não fogem às regras, não ousam. Fazer loucuras é dar asas a uma possibilidade, é tomar um rumo diferente.
Assim, enquanto resisto à inclinação de recorrer às pílulas que façam desaparecer as dificuldades da vida, vou administrando meus dias instáveis, transitando minha sanidade entre os dois polos, vivendo minhas alegrias e tristezas intensamente, por quase nada.