sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

DE OUTROS CARNAVAIS

De origem pagã, o carnaval é uma herança de comemorações realizadas na Antiguidade por povos como os egípcios, hebreus, gregos e romanos. Esses festejos serviam para celebrar grandes colheitas e louvar divindades. Muitos entendidos  dizem que o termo vem de outra expressão latina: carnem levare, que significa “retirar ou ficar livre da carne”. Na Idade Média, essas velhas festividades pagãs foram incorporadas pela Igreja Católica, passando a marcar os últimos dias de “liberdade” antes das restrições impostas pela Quaresma. Nesse período de penitência - durante os 40 dias antes da Páscoa - o consumo de carne era proibido. No Brasil, o carnaval tem influência do “entrudo”, folia de origem portuguesa de onde veio o costume das “guerras de água”, muitas vezes com direito a lama, laranjas, ovos e limões-de-cheiro, entre outros. Outra tradição do Carnaval é o hábito de homens se vestirem com trajes femininos. A explicação está na própria psicologia da festa, um espaço de inversão, em que se busca ser exatamente o que não se é no resto do ano.
Hoje o carnaval é uma grande marca da cultura brasileira. Virou mais “marca” do que Carnaval, atraindo turistas, industrializando Escolas de Samba e roubando a pureza e a alegria natural dos velhos tempos. Brincar Carnaval, ontem e hoje, ainda é deixar-se levar pelas cores, pelo ritmo, pela alegria. É vestir-se de forma bizarra; é mascarar-se para surpreender e provocar risos; é dançar e pular no asfalto, atrás dos carros de som que dão o tom da animação.
Eu gosto da euforia carnavalesca, tanto dos salões quanto das ruas. Penso que se fantasiar, gritar, dançar, pular é uma catarse obrigatória que nos liberta de certos disfarces que a vida gregária nos obriga ostentar depois de toda quarta-feira de cinzas. Então, eu vou botar meu bloco na rua. Eu, por mim, “queria isso e aquilo, um quilo mais daquilo, um grilo menos nisso, é disso que eu preciso ou não é nada disso... Eu quero é todo mundo nesse carnaval”. E não me venha fazer jejum na Quaresma, querer dar uma de santo, que eu já te conheço de outros carnavais.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

NINHO VAZIO

Quando se é mãe, se amamenta, se cria, se educa, acostumamo-nos com as crias sob nossas asas. Vamos cuidando e protegendo, estendendo ao máximo esta ligação.
Mas chega o dia que é preciso e salutar romper o vínculo. Uns filhos saem de casa aos poucos, vão trabalhar, estudar, mas continuam morando próximos ou junto dos pais. Outros são mais radicais, fazem mochila e se mandam pelo mundo; outros vão ficando até terminar estudos, arranjar trabalho, poder se sustentar, até casar... Permanecem porque é cômodo e até porque as mães adoram e vão alimentando esta estadia prolongada, aos moldes das ‘mamas’ italianas, ao contrário do modelo americano.
Nunca tinha pensado muito nisso, embora sempre ouvisse falar. Mas quando a situação se apresenta na nossa realidade é que tomamos consciência do sentimento que é ver os filhos voarem do ninho. Principalmente quando o filho é único.
As mães passam a sofrer da síndrome do ninho vazio. Uma falta da presença dele (a) por perto; uma saudade de vê-lo (a) chegar suado (a) da rua, do seu chamado ‘manhê o que tem pra comê’, ou ‘cadê minha toalha?’. E agora de quem vai se cuidar? Da nossa vida, talvez. Um pouco mais de nós que ficamos nos esquecendo neste longo período de exercício da maternidade.
Embora sabendo que o voo é salutar para o crescimento, maturidade e independência deles, sentimos incerteza e angústia por não saber se os seus projetos vão se edificar. Um ‘não sei o quê de não sei o quê’. Algumas mães devem achar bobos estes sentimentos difíceis de explicar, mas tão intensos no sentir. Mas sei que muitas mães que já passaram por isso compreendem do que se trata. E nessas horas é sempre bom ouvir as experiências de outras mães, que nos ouçam, acalmam, dão o ombro. Tenho pensado em criar um CMNV (clube de mães de ninho vazio), para encontros de terapia coletiva. Quem se habilita a participar? Vou estudar como criar o regulamento.
Enquanto isso vai se exercitando o ritual de “deixe-os ir”. Faz parte da ritualística soltar um barquinho no mar, plantar uma árvore, flores, organizar uma horta, fortalecer nossa fé.  Eu comecei mudando as plantas de lugar. Assim, vamos deixando o papel de mãe, uma forma importante e catártica de ajuda-los seguir em frente.

O importante é que a base do ninho permaneça sólida. E se as avezinhas precisarem executar um voo de emergência saberão onde pousar.